sexta-feira, 19 de julho de 2019

[13.07.2019] 14ª OFICINA PROMOTORAS LEGAIS POPULARES CEILÂNDIA




“Quero pedir desculpas a todas mulheres
Que descrevi como bonitas
Antes de dizer inteligentes ou corajosas
Fico triste por ter falado como se
Algo tão simples como aquilo que nasceu com você
Fosse seu maior orgulho quando seu
Espírito já despedaçou montanhas de agora em diante vou dizer coisas como
Você é forte ou você é incrível
Não por que eu não te ache bonita
Mas por que você é muito mais do que isso”
Rupi kaur

Realizando a leitura de pequenos poemas com mensagens poderosas como esse descrito acima, foi como iniciamos mais um sábado. O impacto de cada pequena leitura, foi sentido a cada momento da oficina em que fomos convidadas a olhar para dentro, o que fazemos por nós mesmos? Como nos cuidamos? Qual é nosso tempo a sós? Quais são as nossas qualidades?
O que é saúde mental para você? Foi assim que começamos a segunda etapa de mais um encontro das PLP’s.  Orientada pela oficineira convidada e psicóloga Uila, fomos divididas em grupos e orientadas a compartilhamos o que percebemos como como saúde mental. Dentre os grupos houveram convergência de ideias, considerando a saúde mental como a autocuidado, autoconhecimento, equilíbrio das emoções, qualidade de vida, verdade e respeito com os sentimentos, bem-estar e auto estima dentre outros.
Saúde mental também foi discutida entre os grupos em relação ao social. Um dos grupos discutiu como manter saúde mental nos relacionamentos, que muitas vezes são ambiente tóxicos, de humilhações e até adoecedores. Um outro grupo ponderou como podemos manter uma saúde mental em um contexto político de tanto ódio e retrocesso? Como resistir sem adoecer, como estar na luta e não acabar com a sanidade que nos resta?
Em um outro grupo foi pensado, em como manter a saúde mental numa vida que parece uma constante corrida, onde tem que se cumprir prazos na faculdade e no trabalho. Que parece que não se tem tempo para pensar em si? Temos apenas tempo para alcançar uma linha de chegada imaginária.
No terceiro momento fomos convidadas pela oficineira a refletir o que fazemos por nós mesmos em relação a nossa saúde física, mental, emocional e espiritual. Vária plp’s relataram dificuldade em pensar o que faziam para si em relação a cada uma dessa áreas, muitas das vezes, apenas uma parte da saúde estava sendo cuidada. Ou mesmo o que considerávamos como cuidado conosco, era na verdade algo que fazíamos pelo outro.
No quarto e último momento fomos convidadas a reconhecer qualidades em nós mesmo. Nesse momento foi possível perceber que houve facilidade de algumas PlPs em reconhecer suas qualidades, enquanto outras, naquele momento não reconheceram as qualidades que têm. Logo, no momento em que algumas mulheres não reconheceram suas qualidades, tivemos a ajuda de outras mulheres para lembrarmos tudo o que somos em qualidade. E temos aqui duas qualidades para todas PLPs: empatia e generosidade.
Esse momento em particular, me remete ao poema escrito no começo desse relato. É impossível encontrar alguém nesse grupo sem nenhuma qualidade, muito além da beleza, todos os compartilhamentos nesses quatro meses de encontros demonstram que estamos rodeadas de mulheres fortes, abertas a aprender, que resistem aos seus problemas todos dias sejam eles pequenos ou grandes, que falam bem em público, que têm consciência social, que fazem diferença em sua comunidades, são inteligentes e corajosas e outras tantas qualidade que apenas ainda não tivemos chance de conhecer para enumerar aqui.
Nessa oficina fomos convidadas a realizarmos um processo introspectivo, de olhar para dentro, mas foi um alento perceber que ao olhar para fora podemos receber de outras mulheres a força para nos ajudar.

E por último a todas PLPs:
“Todas nós seguimos em frente quando
Percebemos como são fortes
E admiráveis as mulheres
Á nossa volta”
Rupi kaur

Relatoria por Mariane Abreu

segunda-feira, 15 de julho de 2019

[06.07.2019] 13ª OFICINA PROMOTORAS LEGAIS POPULARES CEILÂNDIA





Abrimos a oficina com a dinâmica da caixa: recebíamos uma caixa de sapatos com a tarefa de tocar, sentir, cheirar, observar os objetos que ela continha. Eram folhas, flores, madeira, ervas, galhos, conchas, penas, pedras, água, terra e ar. Tivemos que escolher um dentre eles e explicar a razão pela qual nos identificávamos com ele. A caixa trouxe muitas recordações para várias mulheres, e cada uma tinha um motivo diferente pelo qual se atraía pelo seu objeto. Em geral, descobrimos que cada mulher se relaciona com a natureza, a seu próprio modo. Foi uma dinâmica mais calma, silenciosa e introspectiva.

 Para o primeiro espaço, as mulheres foram divididas em 4 grupos para discutir entre si imagens e notícias relacionadas ao ecofeminismo, à sustentabilidade, e às similaridades entre as violências sofridas pela mulher e pela natureza.

 Depois, discutimos com o grupo todo sobre os pontos que mais chamaram a atenção dos grupos. Conversamos sobre a consequência dos agrotóxicos para o corpo das mulheres, a falta de investimentos em ciência para  mulheres, as consequências da escassez de recursos naturais, a relação de poder que coloca o homem acima da mulher e da natureza.

 Daí veio o lanchinho 



No segundo espaço recebemos uma oficineira, a Clarissa, que falou sobre mulheres do campo. Ela partiu das experiências individuais das mulheres do grupo com o campo, e depois fez uma contextualização histórica sobre luta por terras no Brasil. Contou também sobre sua atuação juntamente à Marcha das Margaridas e as mulheres do campo.

 No final, fizemos uma dinâmica (bagunçada kkkkk) de unirmos as mãos com os dedinhos para simbolizar nossa luta em comum.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

[29.06.2019] 12ª OFICINA PROMOTORAS LEGAIS POPULARES CEILÂNDIA





Em nosso encontro do dia 29.06.2019 tratamos sobre os padrões de beleza impostos pela sociedade, assim como a autoestima, autocuidado e gordo fobia. No primeiro momento houve uma dinâmica de “reconhecimento das colegas” onde tivemos que identificar umas as outras apenas a partir do tato. Foi um momento que nos ajudou a perceber o quanto prestamos atenção na outra e nossa percepção sobre suas características físicas. Logo após iniciamos uma atividade em grupo, onde desenhamos o padrão da mulher brasileira em nossa sociedade, o que é aceito como bonito. Foi um momento muito divertido, além de colocarmos a criatividade para fora e descobrirmos o talento de desenho das colegas. Cada grupo apresentou para as demais colegas e explicou como surgiu tal pensamento.
No segundo momento foi proposta uma atividade de autopropaganda, onde teríamos que escrever ou desenhar nossas qualidades para apresentarmos as colegas. Foi um momento muito lindo, onde podemos praticar o amor próprio, além de ter tido um “quê” de superação para muitas mulheres em falarem sobre si.
Uma frase de uma mulher foi muito marcante para mim onde ela dizia “Os modelos são considerados padrões apenas por reunirem todas as características consideradas bonitas em nossa sociedade. Mas nós não precisamos nem somos assim, cada pessoa possui algum desses padrões, não precisamos ter tudo para sermos bonitos”. E é exatamente isso, a partir do momento que compreendemos isso, começamos a superar diversos complexos, e compreender a linha tênue entre o autocuidado, a imposição e nossas vontades.

Relatoria da cursista Pâmela de Azevedo da Rocha.



Aí irmã.

Na rima vou falar
Se tiver que cantar, eu vou cantar
Se tiver que dançar, eu vou dançar
Se tiver que criar figurino,
Crio com satisfação
Se for produção, conte
Com minha colaboração
Más se for sábado pela manhã,
Não me chame não
Estarei na Ceí
Com as PLPs
Construindo um futuro libertador,
Pra nossa nação
Sou pão com mortadela mesmo
E disso não abro mão
É isso aí irmã, eu sou a Luz
Mandando essa rima então.

Relatoria da cursista Cléia Pereira de Sousa (Luz)




segunda-feira, 1 de julho de 2019

[22.06.2019] 11ª OFICINA PROMOTORAS LEGAIS POPULARES CEILÂNDIA




“A sociedade adoece a gente no processo de viver E no processo de se descobrir como desviante do padrão imposto. É importante fazer terapia”. Wanda Marques Araújo

No dia 22.06.2019, no primeiro momento da oficina, finalizamos uma atividade que foi iniciada no sábado anterior; que consistia em conversar sobre como mulheres lésbicas e bissexuais se sentem em relação a determinados temas como: suas vivências no espaço escolar – lugar que pode ser emancipador ou extremamente violento -, no espaço de saúde - comentou-se sobre consultas ginecológicas, e como médicos não estão muito preparados para atender mulheres que não sejam o padrão esperado de heterossexualidade -, sobre amor, sobre vivências no espaço familiar etc.  Houve muita troca. Falamos também sobre sexo seguro entre mulheres, informação que é pouco divulgada.
A Carol comentou sobre o livro “A princesa e a costureira”, que parece muito interessante para explicar para crianças que existem outras orientações sexuais para além do padrão heteronormativo.
O lanche junino foi maravilhoso.
No segundo momento, tivemos a oficina da Wanda Marques Araújo, Professora e Transfeminista.
Ela falou sobre os rígidos estereótipos de gênero com os quais lidamos mesmo antes de nascer, principalmente as mulheres: “A gente nasce num mundo pronto, com conceitos, cultura, questões sociais pré-estabelecidos que moldam/ direcionam a vida e escolhas das pessoas. É difícil até para as mulheres cis se enquadrarem em todas essas exigências sociais tão rígidas, imagina para as trans. O que determina se você é mulher ou não é como você se identifica, e não esses estereótipos sociais. É mais uma formação da identidade, do pensamento, que depende somente da pessoa, e que para além de questões biológicas é em parte construído ao longo do tempo também”.
Explicou ainda que os termos Cis e Trans surgem por uma necessidade de conceituar essas diferenças para evitar uma prevalência de termos pejorativos, para que todas as pessoas trans não sejam tratadas como uma farsa.
A sociedade brasileira tem uma determinação muito limitada de gênero: considerando unicamente a genitália, e não como a pessoa se identifica. Wanda fez a distinção de identidade de gênero e orientação sexual, ponderando que o fato de se identificar como mulher não necessariamente significa que o interesse afetivo sexual dessa mulher será por homens. Relacionamentos são construídos por questões individuais, e não pré-determinados por genitálias.
Wanda comentou sobre o embate entre o RadiFem e o Transfeminismo, muitas vezes pautado demais em questões biológicas, contudo salientou que ela pessoalmente prefere não entrar muito nessa discussão, por achar ser pouco produtiva para pessoas trans.
Falou sobre sua percepção e experiência de que uma mulher trans sofre mais preconceito na sociedade do que um gay cisgênero. E a importância de garantir o direito ao corpo das pessoas trans, de poder alterar seus corpos sem precisar corresponder a estereótipos. Nem dos estereótipos do padrão heteronormativo e nem os novos estereótipos que muitas vezes a sociedade cobra que as mulheres trans correspondam enquanto mulheres, por exemplo. “Hoje eu escolhi vir assim “montada”, mas eu não uso essa roupa e todos esses acessórios no dia a dia”.
Wanda comentou sobre o conceito de passabilidade. Que de forma extremamente sucinta e superficial registro a seguir como: andar na rua sem perceberem que você é trans para inclusive evitar de sofrer possíveis violências. “Quando me leem como mulher cis eu não estou tão segura, quando me leem como trans eu estou menos segura ainda”.
Falou-se também sobre as “pequenas agressões diárias”:
·         Não perguntar se a pessoa operou;
·         Não perguntar qual era seu nome antes da transição;
·         Tratar a pessoa pelo sexo biológico sendo que a pessoa reivindica outra identidade;
·         As risadinhas nos lugares incomodam.
É preciso ter consciência de que as vezes o que você fala fere.
Wanda disse que é comum pessoas transgênero evitarem serviços de saúde, e como a necessidade de procurar por esses serviços gera grande estresse e insegurança. Discutimos sobre serviços para homens e serviços para mulheres, ao invés de existir uma preocupação em atender gente em nossa sociedade falocentrada. A oficineira evita os termos camisinha masculina e camisinha feminina, mas usa camisinhas penianas e camisinhas vaginais.
A sociedade brasileira tenta guardar todo mundo em caixinhas rígidas, e quando não consegue a reação é de incômodo e violência. Brasil é o país que mais mata LGBTs e ao mesmo tempo o que mais consome pornografia LGBT. Wanda também falou sobre o lugar que é associado a pessoas trans e a travestis: a prostituição, a violência, a rua.
Algumas conquistas: transexualidade saiu do conceito de transtorno mental/ desvio mental da OMS. E hoje é possível fazer a identificação do sexo em documentos sem precisar passar pelo juiz, dá para fazer no cartório, tornando o processo menos burocrático. Há o CREAS da diversidade na 615 sul, e o ambulatório trans na 508 sul.
Falamos sobre o debate da transexualidade nos esportes que está começando a ser feito. E sobre tratamentos hormonais, na possibilidade de tomar bloqueadores hormonais até os 18 anos de idade, para que depois se decida sobre tomar ou não determinados hormônios bem como fazer cirurgias. Wanda explicou também como são feitas as cirurgias de transição de sexo. “Deixar as pessoas descobrirem e vivenciarem sua sexualidade, sem o controle dos corpos que pretende forças as pessoas atenderem demandas e expectativas sociais”. E ressaltou também que a adolescência é uma fase em que geralmente muitas pessoas começam a dar os sinais de sua transexualidade e começam a se entender assim. Então é uma idade para os adultos prestarem atenção e serem o apoio que esses jovens que estão se percebendo enquanto trans precisam.
A oficineira nos informou que é possível casais trans terem filhos. Se for um homem trans com uma mulher trans, o casal precisa apenas suspender o uso hormonal antes de engravidar, durante a gravidez e durante a amamentação, voltando a utilizar os hormônios depois. “Família vai muito além de questões de sangue”, muito além desse conceito tão fechado, limitado de família que usam inclusive para justificarem preconceitos com os transexuais alegando que LGBTs não são capazes de gerar crianças.

 Relatoria da facilitadora Maria Laura Romero