segunda-feira, 1 de julho de 2019

[22.06.2019] 11ª OFICINA PROMOTORAS LEGAIS POPULARES CEILÂNDIA




“A sociedade adoece a gente no processo de viver E no processo de se descobrir como desviante do padrão imposto. É importante fazer terapia”. Wanda Marques Araújo

No dia 22.06.2019, no primeiro momento da oficina, finalizamos uma atividade que foi iniciada no sábado anterior; que consistia em conversar sobre como mulheres lésbicas e bissexuais se sentem em relação a determinados temas como: suas vivências no espaço escolar – lugar que pode ser emancipador ou extremamente violento -, no espaço de saúde - comentou-se sobre consultas ginecológicas, e como médicos não estão muito preparados para atender mulheres que não sejam o padrão esperado de heterossexualidade -, sobre amor, sobre vivências no espaço familiar etc.  Houve muita troca. Falamos também sobre sexo seguro entre mulheres, informação que é pouco divulgada.
A Carol comentou sobre o livro “A princesa e a costureira”, que parece muito interessante para explicar para crianças que existem outras orientações sexuais para além do padrão heteronormativo.
O lanche junino foi maravilhoso.
No segundo momento, tivemos a oficina da Wanda Marques Araújo, Professora e Transfeminista.
Ela falou sobre os rígidos estereótipos de gênero com os quais lidamos mesmo antes de nascer, principalmente as mulheres: “A gente nasce num mundo pronto, com conceitos, cultura, questões sociais pré-estabelecidos que moldam/ direcionam a vida e escolhas das pessoas. É difícil até para as mulheres cis se enquadrarem em todas essas exigências sociais tão rígidas, imagina para as trans. O que determina se você é mulher ou não é como você se identifica, e não esses estereótipos sociais. É mais uma formação da identidade, do pensamento, que depende somente da pessoa, e que para além de questões biológicas é em parte construído ao longo do tempo também”.
Explicou ainda que os termos Cis e Trans surgem por uma necessidade de conceituar essas diferenças para evitar uma prevalência de termos pejorativos, para que todas as pessoas trans não sejam tratadas como uma farsa.
A sociedade brasileira tem uma determinação muito limitada de gênero: considerando unicamente a genitália, e não como a pessoa se identifica. Wanda fez a distinção de identidade de gênero e orientação sexual, ponderando que o fato de se identificar como mulher não necessariamente significa que o interesse afetivo sexual dessa mulher será por homens. Relacionamentos são construídos por questões individuais, e não pré-determinados por genitálias.
Wanda comentou sobre o embate entre o RadiFem e o Transfeminismo, muitas vezes pautado demais em questões biológicas, contudo salientou que ela pessoalmente prefere não entrar muito nessa discussão, por achar ser pouco produtiva para pessoas trans.
Falou sobre sua percepção e experiência de que uma mulher trans sofre mais preconceito na sociedade do que um gay cisgênero. E a importância de garantir o direito ao corpo das pessoas trans, de poder alterar seus corpos sem precisar corresponder a estereótipos. Nem dos estereótipos do padrão heteronormativo e nem os novos estereótipos que muitas vezes a sociedade cobra que as mulheres trans correspondam enquanto mulheres, por exemplo. “Hoje eu escolhi vir assim “montada”, mas eu não uso essa roupa e todos esses acessórios no dia a dia”.
Wanda comentou sobre o conceito de passabilidade. Que de forma extremamente sucinta e superficial registro a seguir como: andar na rua sem perceberem que você é trans para inclusive evitar de sofrer possíveis violências. “Quando me leem como mulher cis eu não estou tão segura, quando me leem como trans eu estou menos segura ainda”.
Falou-se também sobre as “pequenas agressões diárias”:
·         Não perguntar se a pessoa operou;
·         Não perguntar qual era seu nome antes da transição;
·         Tratar a pessoa pelo sexo biológico sendo que a pessoa reivindica outra identidade;
·         As risadinhas nos lugares incomodam.
É preciso ter consciência de que as vezes o que você fala fere.
Wanda disse que é comum pessoas transgênero evitarem serviços de saúde, e como a necessidade de procurar por esses serviços gera grande estresse e insegurança. Discutimos sobre serviços para homens e serviços para mulheres, ao invés de existir uma preocupação em atender gente em nossa sociedade falocentrada. A oficineira evita os termos camisinha masculina e camisinha feminina, mas usa camisinhas penianas e camisinhas vaginais.
A sociedade brasileira tenta guardar todo mundo em caixinhas rígidas, e quando não consegue a reação é de incômodo e violência. Brasil é o país que mais mata LGBTs e ao mesmo tempo o que mais consome pornografia LGBT. Wanda também falou sobre o lugar que é associado a pessoas trans e a travestis: a prostituição, a violência, a rua.
Algumas conquistas: transexualidade saiu do conceito de transtorno mental/ desvio mental da OMS. E hoje é possível fazer a identificação do sexo em documentos sem precisar passar pelo juiz, dá para fazer no cartório, tornando o processo menos burocrático. Há o CREAS da diversidade na 615 sul, e o ambulatório trans na 508 sul.
Falamos sobre o debate da transexualidade nos esportes que está começando a ser feito. E sobre tratamentos hormonais, na possibilidade de tomar bloqueadores hormonais até os 18 anos de idade, para que depois se decida sobre tomar ou não determinados hormônios bem como fazer cirurgias. Wanda explicou também como são feitas as cirurgias de transição de sexo. “Deixar as pessoas descobrirem e vivenciarem sua sexualidade, sem o controle dos corpos que pretende forças as pessoas atenderem demandas e expectativas sociais”. E ressaltou também que a adolescência é uma fase em que geralmente muitas pessoas começam a dar os sinais de sua transexualidade e começam a se entender assim. Então é uma idade para os adultos prestarem atenção e serem o apoio que esses jovens que estão se percebendo enquanto trans precisam.
A oficineira nos informou que é possível casais trans terem filhos. Se for um homem trans com uma mulher trans, o casal precisa apenas suspender o uso hormonal antes de engravidar, durante a gravidez e durante a amamentação, voltando a utilizar os hormônios depois. “Família vai muito além de questões de sangue”, muito além desse conceito tão fechado, limitado de família que usam inclusive para justificarem preconceitos com os transexuais alegando que LGBTs não são capazes de gerar crianças.

 Relatoria da facilitadora Maria Laura Romero






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