quinta-feira, 13 de julho de 2017

[11° Encontro da Turma de Promotoras Legais Populares da Ceilândia. Tema do dia: Mulher negra e Solidão da Mulher Negra]


Aqui está a 11ª relatoria de nosso curso escrita por Thalita Najara que contou como foi de forma detalhada, confere aí!


[01/07/17]


A oficina de hoje foi uma continuação da anterior em que o tema do dia foi racismo, que para nós – mulheres negras – nunca sai de pauta. A oficina, assim, foi orientada por três Promotoras Legais Populares formadas em outras turmas: Dani Black, Kamila e Íris.
Para começar e aquecer nossos corpos usamos da técnica teatral em que cada uma das mulheres tinha um comando escrito num papel em que colocamos na nossa testa. Sem saber o que tinha escrito no nosso próprio papelzinho fomos interagindo umas com as outras e a diversão foi total, pois onde já se viu produzir conhecimento sozinha e na chatice?
De forma, que passamos para a primeira dinâmica denominada Privilégio Branco. Assim, todas nós ficamos alinhadas em uma fila e conforme as perguntas eram feitas dávamos um passo para frente ou para trás. Ao final, observamos como ficamos dispostas em referência ao ponto inicial. Algumas de nós muito lá na frente e outras bem atrás. Conversamos sobre isso, isto é, privilégio da branquitude e a pergunta que ficou é “Você que está a alguns passos na frente irá continuar seguindo em frente sem se preocupar com sua companheira que está a alguns passos atrás?”     Na segunda dinâmica, fomos divididas em seis grupos nos quais cada grupo recebeu os mesmos cinco papéis em que estavam escritos algumas demandas dos feminismos. Devíamos colar no papel pardo, quais eram as demandas das mulheres negras, quais eram as demandas das mulheres brancas e quais eram as demandas compartilhadas entre ambas. As cinco demandas eram as seguintes: trabalhar fora; aborto seguro; casamento e divórcio; violência doméstica e Lei Maria da Penha; e liberdade sexual. Depois da discussão nos pequenos grupos, abrimos a grande roda e discutimos em conjunto como ficou o trabalho final.
De modo que, liberdade sexual engendrou o maior debate, pois discutiu-se o quanto constitui-se como incongruente essa demanda para as mulheres negras, em face da hipersexualização da mulher negra, do mito da democracia racial no Brasil, da miscigenação promovida pelo estupro às mulheres negras e de como a sociedade brasileira consigna-se como produto de um patriarcado racista.
Na segunda parte da oficina vimos trecho do filme Vênus Negra e seguiu-se de discussão em conjunto. Lembrou-se que foram às custas da violação do corpo do povo preto que os avanços da medicina ocidental foram realizados e que como no caso histórico de Saartjie Baartman, a protagonista do filme, desenvolveu-se a anestesia que é atualmente negada às mulheres negras no atendimento hospitalar. Ou ainda, que Hipócrates, considerado o pai da medicina, adquiriu todo o seu conhecimento no Egito – nordeste da África.
O filme Amistad também teve um trecho exibido na oficina e salientou-se que tanto homens quanto mulheres negras estavam no mesmo barco nessa estrutura racista de colonização que sequestrou nossos ancestrais por meio do tráfico de pessoas no período escravocrata. Nesse sentido, foram levantadas importantes contribuições do mulherismo africana.
Por sugestão da cursista Luiza assistimos o vídeo chamando “O perigo da história única” da escritora nigeriana Chimamanda Adichie que nos lembrou que é possível continuar na luta pelo fim da estrutura patriarcal racista.
Por fim, a facilitadora Kamila leu um poema de grande força e nos reunimos em roda a fim de finalizar o dia. Fomos indagadas a pensar sobre tudo o que havíamos discutido e sintetizarmos em uma palavra o que levaríamos daquela oficina. Eu por mim mesma escolhi a palavra fé. Não conseguiria pensar em outra. A minha na minha ancestralidade e na resistência é fundada no trechinho que deixo da música de Mariene de Castro


Aprendi na senzala a tristeza da rima
Do chicote que estala e reduz à ruína
Vi fluir a maldade no peso da argola
Chorei a liberdade que estava em angola
É por isso que o samba me bole no peito
É por isso que a noite me faz tão feliz
É a força que vem da raiz


Thalita Najara



11º encontro das promotoras legais populares.




Quer saber mais? Se liga aí!

  1. https://www.youtube.com/watch?v=MuOE3IJZoZU - Jogo do Privilégio Branco
  2. https://youtu.be/3_P--6uis4Q - Filme Vênus negra⁠⁠⁠⁠
  3. https://youtu.be/qDovHZVdyVQ - O perigo de uma história única - Chimamanda Adichie
  4. https://youtu.be/4GPICBDb87M - Navio negreiro - Tráfico de africanos para as américas
  5. https://pensamentosmulheristas.wordpress.com/ - 10 tópicos sobre mulherismo africana (para escurecer o pensamento)


quarta-feira, 5 de julho de 2017

[10° Encontro da Turma de Promotoras Legais Populares da Ceilândia. Tema do dia: Racismo + mercado de trabalho]


Tivemos nossa décima oficina, dando continuidade ao foco na mulher negra e aqui está o relatório, feito por Larissa Santos, a respeito do que aconteceu!

[24/06]

Relatório do encontro ocorrido no curso das Promotoras Legais Populares, encontro do dia 24 de Julho.
​Antes de começarmos nossas atividades fizemos um aquecimento, praticamos a dinâmica do espelho, formamos duplas em que uma fazia o movimento e a outra imitava e depois isso se invertia.​Depois voltamos para nossos lugares e as facilitadoras nos dividiram em três grupos e entregaram uma folha que continha fotos de pesquisas feitas no google sobre duas perspectivas, por exemplo, “cabelos bonitos X cabelos feios”, “dread bonito X dread feio”, “turbante bonito X turbante feio”. Mostraram-nos as imagens referentes a cada termo pesquisado e deram um tempo para pensarmos sobre os resultados dessas pesquisas. Meu grupo ficou com as imagens sobre o cabelo bonito e feio, conseguimos perceber que nas imagens com cabelos denominados como bonitos parecia que era a mesma pessoa em todas as fotos: mulheres brancas, magras, com cabelo longo e liso ou com leves ondulações. Obviamente, nota-se a padronização exigente que qualifica essas características como “bonitas” e que são socialmente aceitas.
​Por outro lado, havia a pesquisa sobre o cabelo feio e de 10 fotos oito eram de pessoas negras com cabelos crespos e as outras duas eram pessoas brancas que tinham cortes de cabelos que fugiam do que é padronizado e qualificado como bonito. A partir dessas constatações feitas em grupo, puderam-se tirar várias críticas. Primeiro, que existe uma questão racial muito evidente entre o que é bonito e o que é feio, isso também repercute nas outras pesquisas independente da característica. O que é visto como mais bonito sempre é algo que está caracterizando uma pessoa branca.
​Em seguida, conseguimos observar que mesmo quando algo é aceito como bonito existe uma hierarquização sobre o que é “mais bonito”, por exemplo, atualmente os cabelos enrolados estão sendo mais aceito socialmente, mas existem estilos de cachos que são mais aceitos que outros e, ironicamente, os cachos mais soltos que se assemelham aos cachos lisos são os mais aceitos.
​Quando abrirmos as discussões sobre as percepções que cada grupo teve em relação às imagens, a roda toda passou a discutir bastante sobre a questão das pessoas se identificarem como negras ou brancas. Umas das instruções das facilitadoras foram para que pensássemos sobre qual das imagens a gente se identificava mais e muitas tiveram dificuldade.
​Foi pontuado na roda que essa dificuldade vem de uma contextualização histórica de uma miscigenação forçada que o Brasil teve durante sua colonização, negras e nativas eram estupradas pelos colonizadores brancos e a partir disso foi surgindo vários tons de pele, gerando a diversidade brasileira. Essa diversidade, para mim, se tornou uma identidade brasileira, mas isso causa certa confusão sobre se enquadrar em determinada categorização entre negros e brancos e isso é importante pelo fato de sabermos reconhecer os privilégios que pode possuir por ter determinada cor.
​Algumas mulheres deram a opinião de que um marcador importante na hora de refletir sobre essa identificação é perceber se você sofre preconceito devido a sua cor, reparar em quem sofre preconceito racial e quem não sofre, quem é excluído, quem já foi abordada pela polícia apenas por ser negra. Durante essa discussão uma mulher negra que participava da roda nos chamou atenção para o fato das mulheres negras quase não estarem dando opiniões, a fala estava se concentrando nas meninas brancas, mais um reflexo inconsciente dessa questão racial. Depois fomos para o lanche.
​Na segunda parte fomos novamente dividias em grupo e nos entregaram 3 palavras: “cor de pele” ,” cabelo ruim”, “doméstica”, “serviço de preto”, “inveja preta e inveja branca”. Voltamos a falar o quanto o racismo está enraizado na nossa cultura, nas expressões que usamos e salientamos para o quanto é necessário buscarmos reconhecer nossos privilégios e entendermos como o racismo funciona e suas consequências, o racismo mata muitas negras e negros.
​As mulheres negras da roda falaram sobre a questão da solidão da mulher negra, que está relacionado com a dificuldade de uma mulher negra se relacionar devido aos vários estereótipos que foram impostos e socialmente naturalizados sobre uma supersexualização. Para melhor dizer, é aquele pensamento ridículo que vários homens têm de que mulheres negras foram feitas para fazer sexo e não para casar ou terem um relacionamento estável.

Larissa Santos




Quer saber mais? Se liga aí!


  1. Artigo de Kimberlé Crenshaw. "A Interseccionalidade na Discriminação de Raça e Gênero". Fonte: Blog da disciplina Direito, Relações Raciais e Diáspora Africana. Link: https://drive.google.com/drive/folders/0B7WBTTitwx7jTU9TNkd6c09ZS0k
  2. Artigos de Beatriz Nascimento “É tempo de falarmos de nós mesmos”. Fonte: Blog da disciplina Direito, Relações Raciais e Diáspora Africana. Link: https://drive.google.com/drive/folders/0B7WBTTitwx7jTU9TNkd6c09ZS0k
  3. Mini-Doc da Neggata “Ah, Branco! Dá um tempo! Construindo espaços. Link: https://www.youtube.com/watch?v=CykGViSzDbk
  4. Música de Elza Soares “A carne”. Link: https://www.youtube.com/watch?v=Lkph6yK6rb4


Veja também a relatoria do nosso 9º encontro.