quarta-feira, 18 de setembro de 2019

[24.08.2019] 17ª OFICINA PROMOTORAS LEGAIS POPULARES CEILÂNDIA




Existem fatores que propiciam o elevado índice de violência contra mulher num contexto histórico e contemporâneo contínuo. Estes refletem o processo de aprofundamento da desigualdade racial nos indicadores letais do País, do qual assola principalmente a população que possui menos acesso à informação.
As mulheres negras no Brasil são o segmento onde se concentra o maior número de Feminicídios, além de ser também aquele que mais sofre com a violência doméstica e obstétrica, a mortalidade materna e a criminalização do aborto. 
O Mapa da Violência mostra que enquanto o homicídio de mulheres negras experimentou um crescimento de 54,2% entre 2003 e 2013, no mesmo período, o homicídio de mulheres brancas caiu 9,8%. Não bastasse a violência contra si, a mulher negra também experimenta com maior intensidade a violência contra seus filhos, irmãos e companheiros. Por consequência do racismo estrutural muitas destas mulheres encontram-se à mercê da própria sorte, que em casos de maior vulnerabilidade sofrem situações precárias de fome, abandono e pobreza.  Quão mais vulnerável esta for, mais propícia estará a viver situações de risco.

Relatoria da cursista Lídia Reis



A oficina de hoje (24/8), contou com a presença da advogada Ísis Táboas, atuante em violência doméstica e familiar contra a mulher.
Inicialmente nos dividimos em seis grupos para refletir e discutir sobre o tema a partir das letras de duas músicas: a primeira, "Faixa Amarela" escrita nos anos 90 e interpretada por Zeca Pagodinho e a segunda "Maria da Vila Matilde", lançada em 2015 por Elza Soares. Após escutar, discutimos em torno de questões como a maneira em que a violência contra a mulher era retratada nos anos 90 , período da "Faixa Amarela" e como é atualmente, já na época de "Maria de Vila Matilde".
Surgiram então várias reflexões em cada grupo e podemos destacar algumas questões levantadas por eles: a importância da promulgação da Lei Maria da Penha em 2006, pois ela foi fruto do esforço do movimento de mulheres e especialistas no tema e provocou o início da mudança em como o enfrentamento à violência doméstica deveria ser encarado no Brasil como tema legal, onde todos devem "meter a colher"; a conscientização e o fortalecimento das mulheres que vivem num ciclo de violência e que passaram a ter amparo legal para sair dele ; a importância de discutir sobre as práticas machistas entre os autores de violência doméstica para que eles entendam que devem mudar de comportamento; a importância de projetos que discutam sobre o tema em escolas e na sociedade por meio de propagandas, etc., conforme estipula a LMP; a percepção de que a lei é muito avançada mas que se a cultural patriarcal e machista não for modificada, os altos índices de agressões e feminicídios de mulheres não serão reduzidos.
Após a exposição dos grupos, a oficineira, Ísis, trouxe de maneira didática e visual, por meio de cartazes, tópicos fundamentais sobre o assunto. A advogada explicou sobre ciclos de violência, sobre os altos índices de feminicídios no Brasil, sobre os tipos de violência amparados pela Lei Maria da Penha, sobre o 180 e sobre quem pode ser autor e vítima pela mesma lei, ressaltando que as vítimas sempre serão mulheres cis ou trans.
Um dos momentos mais lúdicos foi quando tivemos a tarefa de reescrever um trecho da música do Zeca:
[...]"Mas se ela vacilar, vou dar um castigo nela
Vou lhe dar uma banda de frente
Quebrar cinco dentes e quatro costelas
Vou pegar a tal faixa amarela
Gravada com o nome dela
E mandar incendiar
Na entrada da favela."
Percebemos que pensamentos assim já não são mais aceitos como eram na década de 90 mas ainda falta uma longa caminhada de luta coletiva para que possamos viver sem medo e vergonha, fatores recorrentes quando o assunto é violência contra nossos corpos e mentes.
#mulheraculpaNUNCAésua

Relatoria da cursista Isabela Aysha




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