sexta-feira, 13 de setembro de 2019

[17.08.2019] 16ª OFICINA PROMOTORAS LEGAIS POPULARES CEILÂNDIA




Oficineiras convidadas: Raquel Santana (advogada) e Tayane Nunes (Psicóloga)

A oficina do dia 17/08 teve como tema de debate o “Trabalho”. Assim que chegamos, fizemos uma dinâmica de aquecimento corporal na sala, caminhando todas em diferentes sentidos. Em seguida, escolhemos uma parceira que estivesse mais próxima do nosso braço direito para fazermos dupla e iniciarmos falando cada uma sobre como foi a nossa semana. Logo após esse momento, as oficineiras se apresentaram e nos pediram que cada uma compartilhasse o que escutamos da fala da nossa parceira na dupla sobre a sua semana com o enfoque nas relações e dinâmicas de “Trabalho”. Muitos temas foram abordados, inclusive relacionados a outras esferas da vida, como tempo para a diversão, o estudo, cuidado com os outros e consigo mesma.
O estudo aqui compreendido como uma profissão por várias mulheres, já que é uma demanda de tempo, energia mental e física que muitas pessoas tendem a não classificar como trabalho a partir da noção de que seria muito fácil “só” estudar. A sobrecarga de quem estuda e trabalha ao mesmo tempo, já que cria uma rotina com pouco tempo livre para descanso ou diversão, situação na qual várias mulheres se encontram. Também, o cuidado com a família e os trabalhos domésticos que tendem a tomar uma arte considerável da rotina das mulheres, gerando as jornadas duplas ou triplas. A pressão sobre a mulher para que tenha um bom emprego e, além disso, seja uma ótima mãe, cuidadora da casa e muitas vezes cuide também dos próprios maridos ou companheiros.
Sobre o ambiente de trabalho em si, as relações de trabalho competitivas, em que as pessoas estão buscando “tirar o tapete” umas das outras são uma grande fonte de frustração. Existem muitas consequências negativas advindas da opressão de gênero nas relações de trabalho, já que        as mulheres fazem mais do que os homens muitas vezes e recebem muito menos reconhecimento pelo que fazem, como se fosse o mínimo esperado delas. Além disso, o desemprego ou a aposentadoria e os estigmas relacionados ao “não estar funcional”, já que essas situações para as mulheres muitas vezes acarretam na mesma se tornar a única cuidadora da casa e suas funções, já que outras pessoas a cobram por “não estar fazendo nada”. 
O trabalho emocional e de solucionar conflitos nos vários ambientes, em casa e no trabalho, geram um tipo de sobrecarga nas mulheres que por vezes as impedem de cuidar de si próprias já que estão sempre atentas e ocupadas com os outros. A divisão que ainda existe entre trabalhos preferenciais para as mulheres, que envolvem cuidados com o outro, e os trabalhos preferenciais para os homens, sendo por vezes, posições de mais poder. O fato de que em média as mulheres estudam mais do que os homens mas ainda recebem menores salários também é um fator relevante na realidade de muitas mulheres, principalmente das mulheres negras, que recebem em média salários menores do que o de todos os outros segmentos populacionais. 
Ter que trabalhar para garantir o sustento, mas sem obter prazer naquilo que se realiza é uma realidade para uma grande número de mulheres que chefiam suas famílias ou contribuem para a renda da casa e que tem opções limitadas e com condições de trabalho muito precárias. Ainda assim, amar o que se faz, independente de ser uma função de status social ou não, executar da melhor maneira possível o nosso trabalho foi sugestionado como uma maneira de lidar com os possíveis adoecimentos ocasionados pela rotina pesada do trabalho. Algumas mulheres discordaram dessa perspectiva, afirmando que o fato de que escolher e amar o que se faz muitas vezes é um privilégio que muitas pessoas não têm.
A Reforma da Previdência e do Trabalho do atual governo federal são formas de precarizar ainda mais as relações de trabalho e retirar garantia de direitos, já que a aposentadoria está cada vez mais distante enquanto horizonte para a população e a “flexibilização” dos direitos trabalhistas farão com que se trabalhe mais e receba menos, além de trabalho aos domingos, fim do décimo terceiro, entre outras formas de aumentar a exploração da população. A negociação dos contratos diretamente com os patrões enfraquece a classe trabalhadora, já que retira os mecanismos de regulamentação e das categorias organizadas e beneficia os mais ricos que possuem muito mais poder para fazer fazer valer seus interesses.

Outras diversas questões foram abordadas na grande roda, foi um debate muito rico e que suscitou muitas reflexões. Após a pausa para o lanche, nos dividimos em pequenos grupos para debater alguns temas geradores sugeridos pelas oficineiras e em seguida retornamos com o debate na grande roda. Os temas abordados nos grupos foram:
1-O que é trabalho pra você? (trabalho de cuidado e doméstico)
Não existe uma divisão igualitária de trabalho doméstico entre homens e mulheres, tornando as mulheres sobrecarregadas tanto no trabalho quanto em casa, já que no trabalho por vezes espera-se que a mulher se dedique mais aos afazeres e que em casa ela realize o trabalho doméstico e de cuidados familiares.
2-O que te faz sofrer no trabalho? (Como lida)
Situações de opressão, de desqualificação e exploração. A falta de apoio e de relações saudáveis no trabalho também foram mencionadas como geradores de sofrimento. Como as mulheres lidam com essas situações varia muito de contexto para contexto, tanto no nível individual quanto a nível coletivo, de organização enquanto classe e poder de negociação.
3-O que te faz/faria feliz no trabalho?
O reconhecimento do potencial de cada uma, a valorização daquilo que se realiza, diálogo e respeito. Espaços de descanso e para dar uma escapadinha da correria no próprio ambiente de trabalho.
4-Como lidam com o cuidado dos filhos, idosos e outros familiares?
O cuidado com os membros da família foi citado por muitas mulheres.
5- Como se sentem nessa relação de cuidado?
Esse cuidado não necessariamente é um fardo na vida das mulheres, mas se torna um problema na medida em que passam a não serem cuidadas e valorizadas nas suas funções ou até mesmo por não conseguirem cuidar de si próprias.
6-O que é cuidado?
O cuidado para as mulheres muitas vezes está associado ao cuidado com o outro ou com o físico, não se levando em consideração dimensões mais profundas do autocuidado. É necessário buscar formas de cuidado de si para que tenhamos a força necessária para realizar as diversas atividades que desempenhamos, seja em casa, na família ou no trabalho.




           
                       
           
           



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