Oficineiras convidadas: Raquel
Santana (advogada) e Tayane Nunes (Psicóloga)
A oficina do
dia 17/08 teve como tema de debate o “Trabalho”. Assim que chegamos, fizemos
uma dinâmica de aquecimento corporal na sala, caminhando todas em diferentes
sentidos. Em seguida, escolhemos uma parceira que estivesse mais próxima do
nosso braço direito para fazermos dupla e iniciarmos falando cada uma sobre
como foi a nossa semana. Logo após esse momento, as oficineiras se apresentaram
e nos pediram que cada uma compartilhasse o que escutamos da fala da nossa
parceira na dupla sobre a sua semana com o enfoque nas relações e dinâmicas de
“Trabalho”. Muitos temas foram abordados, inclusive relacionados a outras
esferas da vida, como tempo para a diversão, o estudo, cuidado com os outros e
consigo mesma.
O estudo aqui
compreendido como uma profissão por várias mulheres, já que é uma demanda de
tempo, energia mental e física que muitas pessoas tendem a não classificar como
trabalho a partir da noção de que seria muito fácil “só” estudar. A sobrecarga
de quem estuda e trabalha ao mesmo tempo, já que cria uma rotina com pouco
tempo livre para descanso ou diversão, situação na qual várias mulheres se
encontram. Também, o cuidado com a família e os trabalhos domésticos que tendem
a tomar uma arte considerável da rotina das mulheres, gerando as jornadas duplas
ou triplas. A pressão sobre a mulher para que tenha um bom emprego e, além
disso, seja uma ótima mãe, cuidadora da casa e muitas vezes cuide também dos
próprios maridos ou companheiros.
Sobre o
ambiente de trabalho em si, as relações de trabalho competitivas, em que as
pessoas estão buscando “tirar o tapete” umas das outras são uma grande fonte de
frustração. Existem muitas consequências negativas advindas da opressão de
gênero nas relações de trabalho, já que as
mulheres fazem mais do que os homens muitas vezes e recebem muito menos
reconhecimento pelo que fazem, como se fosse o mínimo esperado delas. Além
disso, o desemprego ou a aposentadoria e os estigmas relacionados ao “não estar
funcional”, já que essas situações para as mulheres muitas vezes acarretam na
mesma se tornar a única cuidadora da casa e suas funções, já que outras pessoas
a cobram por “não estar fazendo nada”.
O trabalho
emocional e de solucionar conflitos nos vários ambientes, em casa e no
trabalho, geram um tipo de sobrecarga nas mulheres que por vezes as impedem de
cuidar de si próprias já que estão sempre atentas e ocupadas com os outros. A
divisão que ainda existe entre trabalhos preferenciais para as mulheres, que
envolvem cuidados com o outro, e os trabalhos preferenciais para os homens,
sendo por vezes, posições de mais poder. O fato de que em média as mulheres
estudam mais do que os homens mas ainda recebem menores salários também é um
fator relevante na realidade de muitas mulheres, principalmente das mulheres
negras, que recebem em média salários menores do que o de todos os outros
segmentos populacionais.
Ter que
trabalhar para garantir o sustento, mas sem obter prazer naquilo que se realiza
é uma realidade para uma grande número de mulheres que chefiam suas famílias ou
contribuem para a renda da casa e que tem opções limitadas e com condições de
trabalho muito precárias. Ainda assim, amar o que se faz, independente de ser
uma função de status social ou não, executar da melhor maneira possível o nosso
trabalho foi sugestionado como uma maneira de lidar com os possíveis
adoecimentos ocasionados pela rotina pesada do trabalho. Algumas mulheres
discordaram dessa perspectiva, afirmando que o fato de que escolher e amar o
que se faz muitas vezes é um privilégio que muitas pessoas não têm.
A Reforma da
Previdência e do Trabalho do atual governo federal são formas de precarizar
ainda mais as relações de trabalho e retirar garantia de direitos, já que a
aposentadoria está cada vez mais distante enquanto horizonte para a população e
a “flexibilização” dos direitos trabalhistas farão com que se trabalhe mais e
receba menos, além de trabalho aos domingos, fim do décimo terceiro, entre
outras formas de aumentar a exploração da população. A negociação dos contratos
diretamente com os patrões enfraquece a classe trabalhadora, já que retira os
mecanismos de regulamentação e das categorias organizadas e beneficia os mais
ricos que possuem muito mais poder para fazer fazer valer seus interesses.
Outras diversas questões foram
abordadas na grande roda, foi um debate muito rico e que suscitou muitas
reflexões. Após a pausa para o lanche, nos dividimos em pequenos grupos para
debater alguns temas geradores sugeridos pelas oficineiras e em seguida
retornamos com o debate na grande roda. Os temas abordados nos grupos foram:
1-O que é trabalho pra você? (trabalho de cuidado e doméstico)
Não existe uma
divisão igualitária de trabalho doméstico entre homens e mulheres, tornando as
mulheres sobrecarregadas tanto no trabalho quanto em casa, já que no trabalho
por vezes espera-se que a mulher se dedique mais aos afazeres e que em casa ela
realize o trabalho doméstico e de cuidados familiares.
2-O que te faz sofrer no trabalho? (Como lida)
Situações de opressão, de desqualificação e
exploração. A falta de apoio e de relações saudáveis no trabalho também foram
mencionadas como geradores de sofrimento. Como as mulheres lidam com essas
situações varia muito de contexto para contexto, tanto no nível individual
quanto a nível coletivo, de organização enquanto classe e poder de negociação.
3-O que te faz/faria feliz no trabalho?
O reconhecimento do potencial de cada uma, a
valorização daquilo que se realiza, diálogo e respeito. Espaços de descanso e
para dar uma escapadinha da correria no próprio ambiente de trabalho.
4-Como lidam com o cuidado dos filhos, idosos e outros familiares?
O cuidado com os membros da família foi citado por
muitas mulheres.
5- Como se sentem nessa relação de cuidado?
Esse cuidado não necessariamente é um fardo na vida
das mulheres, mas se torna um problema na medida em que passam a não serem
cuidadas e valorizadas nas suas funções ou até mesmo por não conseguirem cuidar
de si próprias.
6-O que é cuidado?
O cuidado para as mulheres muitas vezes está
associado ao cuidado com o outro ou com o físico, não se levando em
consideração dimensões mais profundas do autocuidado. É necessário buscar
formas de cuidado de si para que tenhamos a força necessária para realizar as
diversas atividades que desempenhamos, seja em casa, na família ou no trabalho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário