Relatoria
10
de agosto de 2019.
Feche seus olhos, respire fundo,
sinta seu coração bater, sinta suas mãos, seus pés... sinta seus dedos, seu
sangue fluir em suas veias, sinta a vida que existe em você. E foi assim que
iniciamos nosso sábado, tendo consciência do nosso corpo. Dessa máquina
poderosa, capaz de estar mais um dia de pé, pronto para aprender e ensinar.
O
tema da oficina do dia 10 de agosto foi saúde da mulher e as doenças que mais
nos atingem. Em uma das oficinas anteriores, a palestrante nos disse:
"olha, os homens estão se cuidando mais, estão correndo atrás dos direitos
deles, estão passando as mulheres". O que nos fez refletir muito. É a
verdade... acreditamos que estamos sempre sobrecarregadas, com os olhos
voltados para o outro… esquecendo de nos cuidar. Aquele "papo" de
carga mental é real. Muitos acham genial nossa capacidade de fazer milhares de
tarefas ao mesmo tempo, sempre tão fortes. Entretanto, não há nada de belo essa
romantização que nos obriga a lembrar de tudo, menos de nós mesmas.
Como
de costume, fomos separadas em grupos para discutirmos pontualmente os temas e
logo depois levamos o debate para a grande roda. Diversas foram as histórias
compartilhadas naquele dia, sua importância para nosso engrandecimento são
inestimáveis, contudo, para essa relatoria, decidimos por dar um enfoque maior
nas informações obtidas sobre sintomas, diagnósticos e tratamentos, uma vez que
foi perceptível, em nossas conversas, a dificuldade de acesso à informações de
qualidade, que muitas vezes, são capazes de salvar vidas. Seguem os tópicos:
Saúde geral da mulher: Quando somos adolescentes, às vezes
escutamos de nossas mães, quando escutamos, que devemos fazer algo chamado
"prevenção", para "ver se tá tudo certinho lá dentro".
Acredito que em grupo, entramos em um consenso. De que não devemos esperar nos
tornarmos adultas sexualmente ativas para irmos ao ginecologista e começarmos a
nos cuidar. É importante que, desde a primeira menstruação, acompanhemos as
mudanças de nossos corpos. A melhor forma de lidarmos com isso é nos
informando, dialogando, e modificando os tabus existentes entorno dessas
temáticas. Não apenas com vistas à prevenirmos doenças, a educação sexual nos
permite compreender com clareza os nossos limites, as diferenças que existem,
por exemplo, entre uma consulta médica e o que ultrapassa para um abuso ou uma
violência. Outra questão abordada neste tópico foi que essas doenças se
espalham de forma silenciosa, são democráticas e não possui cara. O número de
doenças atacando adultos e idosos vem aumentando exponencialmente por diversos
motivos, seja pela falta de conhecimento, pelo excesso de confiança de que isso
não vai acontecer consigo, ou porque não tem mais riscos de gravidez. O que nos
leva a refletir... por que o medo de uma gravidez é maior do que os riscos de
se adquirir uma doença que às vezes pode tantas dificuldades e riscos para a
própria vida? Isso poderia ser relacionado ao fato de que a responsabilidade,
independente do que aconteça, ser jogada sempre nos braços da mulher,
responsável pelo controle familiar e pela higienização da sociedade.
Trazemos
aqui alguns exames de rotina que devem ser feitos anualmente por mulheres:
Exames gerais (hemograma completo, colesterol total, função tireoidiana, urina,
fezes, eletrocardiograma, entre outros), papanicolau e exame pélvico
(anualmente a partir dos 18 anos, ou antes, caso já tenha mantido relações
sexuais), ultrassom pélvico/transvaginal, autoexame de mama, mamografia, testes
de perfil hormonal, diabéticas, entre outros. Foi dado, na grande roda, dicas
do dia-a-dia, simples e importantes, como dormir sem calcinha (sempre que
possível), fazer xixi após a relação sexual, entre outras.
Endometriose:
É uma inflamação provocada por células do endométrio que, em vez de serem expelidas,
migram para outras regiões como ovários ou na cavidade abdominal. Não se sabe
ainda o que a causa, podendo ser genética ou por deficiência do sistema
imunológico, etc.
Sintomas: Cólica menstrual intensa
incapacitante, dor nas relações sexuais, infertilidade, dor e sangramento
intestinais e urinários durante a menstruação.
Diagnóstico: Exames de imagem,
laboratoriais e biópsia
Tratamento: Anticoncepcional, inibidores
hormonais, cirurgia.
Observação: No grupo foi levantada a questão que, mesmo com
tantos avanços na medicina, o corpo da mulher ainda é negligenciado. Pouco se
sabe sobre a endometriose e métodos para reverter a situação.
HPV (vírus do papiloma humano): esse vírus, muito comum entre
mulheres e homens. Provoca verrugas (na região genital e anal) e, em seu caso
mais grave, pode causar câncer. Apesar de ser uma infecção sexualmente
transmissível, é de fácil transmissão a partir do simples contato com pele ou
mucosas. O HPV pode não apresentar sintomas, assim como pode ficar incubado por
anos até apresentar seus primeiros sintomas. Além disso é uma doença crônica,
podendo ou não permanecer no corpo.
Sintomas: pode se apresentar na forma clínica (visível) com
verrugas na região genital e no ânus, de vários tamanhos e formas (normalmente
não causam incômodo e possivelmente não são cancerígenos). Outra possível lesão
é a subclínica (não visível). Os sintomas podem ser percebidos também em
homens. É possível que apresente também em outras regiões como dentro do nariz,
boca e laringe. Existe a possibilidade de crianças serem infectadas durante o
parto, apesar de ser raro.
Diagnóstico: a partir dos sintomas é necessário
acompanhamento médico para que sejam feitos exames laboratoriais.
Tratamento: retirada das verrugas com cauterização.
Observação: há alguns anos, foi criada a vacina para
prevenir o surto de HPV, o que gerou debates de dimensões gigantescas. O maior
pânico criado foi em relação à idade das meninas que seriam imunizadas
(geralmente de 9 a 14 anos para meninas e de 11 a 14 para meninos). Grupos
conservadores acreditavam que essa era uma maneira de sexualizar meninas tão
jovens. Entretanto, a importância da vacinação nessa idade é exatamente
imunizar as crianças antes de sua vida sexualmente ativa, uma vez que a taxa de
pessoas com a doença são altas. Outro ponto ressaltado foi a necessidade de se
imunizar na mesma proporção os meninos, além da importância da educação sexual.
Diabetes: a diabetes ocorre quando a insulina,
hormônio que quebra glicose para transformar em energia, possui níveis anormais
no corpo. Nesse sentido, pode causar aumento de glicemia. Esse aumento é capaz
de gerar diversas complicações podendo levar a morte. Existem dois tipos, a
tipo 1, crônica em que o pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina, e a tipo 2,
doença crônica que modifica a maneira que o corpo processa a açúcar.
Sintomas: fome e sede constantes, vontade de urinar fora do
comum, perda de peso, cansaço, náusea, entre outros.
Tratamento: injeções de insulina para normalizar as taxas de
glicose no sangue.
Diagnóstico: exame de sangue simples.
Hipertensão: mais uma das doenças crônicas, é
caracterizada, de acordo com o site do Ministério da saúde, pelos níveis
elevados da pressão sanguínea nas artérias, o que faz com que o coração exerça
esforços maiores para distribuir o sangue corretamente pelo corpo. A
hipertensão pode causar acidente vascular cerebral, infarto, aneurisma,
insuficiência renal e cardíaca entre outros. É hereditário em 90% dos casos,
todavia fatores cotidianos de hábitos podem influenciar.
Sintomas: é uma doença silenciosa, que somente é percebida
quando os níveis sobem muito, causando dor no peito, tonturas, zumbido no
ouvido, visão embaçada, entre outros.
Tratamento: não tem cura, o tratamento deverá ser
individualizado para cada paciente de forma a controlar o caso.
Diagnóstico: medir a pressão com uma certa regularidade a
partir dos 20 anos.
Anemia falciforme: esse tipo de anemia é uma mutação no
gene da hemoglobina, originando uma célula anormal em forma de foice. Doença
muito comum, pode gerar anemia. Cerca de 8% da população negra do país
apresenta a doença, sendo mais comum.
Sintomas: podem acontecer já na segunda metade do primeiro
ano de vida causando: crise de dor, síndrome mão-pé (dores nessas regiões),
maior propensão à infecções, úlceras e
sequestro de sangue no baço.
Tratamento: desde a descoberta da doença é necessário
acompanhamento em programa de atenção integral, a fim de evitar crises e tratar
adequadamente.
Diagnóstico: teste do pezinho e exame de eletroforese de
hemoglobina.
Observação: essas doenças atingem com uma especificidade
maior a população negra. Segue o link para o PDF do “Manual de doenças mais
importantes, por razões étnicas, na população brasileira Afro-descendente” da
Secretaria de Políticas de Saúde do Ministério da Saúde: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doencas_etnicas.pdf
Perineoplastia: é uma cirurgia que tem como objetivo
reconstituir os músculos do períneo, a fim de fortalecer a musculatura, evitar
e corrigir casos de incontinência urinária. Pode ser causada nos casos de
mulheres que tiveram laceração na musculatura da vagina pela gravidez,
reiterados casos de infecções urinárias, uso de medicamentos diuréticos e
excesso de peso.
Sintomas: perda de urina ao tossir,
incontinência urinária.
Prevenção: autocuidado, exercícios
íntimos como pompoarismo e visitas periódicas ao ginecologista.
Observação: 40% das mulheres com mais de 50 anos são
acometidas. Um debate que foi gerado durante a grande roda foi a utilização da
cirurgia com fins meramente estéticos ou para o “prazer do marido”, situação
que pode gerar um desconforto para a mulher pelo resto da vida.
Ao
finalizarmos a relatoria, relembramos momentos importantes de abertura,
diálogos e desabafos. Apesar da dificuldade de nos abrirmos e deixarmos com que
pessoas estranhas escutem aquilo que de mais íntimo nos assombra, o grupo se
mostra sempre um local de aconchego, de cuidado. Um espaço temporal e físico
onde podemos ser nós mesmas. Sabemos que temos, alí, mulheres com quem
contarmos para todos os momentos. Onde nos enchemos de força e esperanças para
seguirmos em frente. <3
Relatoria feita em
conjunto por Sellen Alexandre e Katlen Valério.
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