Reconhecer-se,
identificar-se. Essas foram duas palavras que conduziram o grupo na última
oficina. Nós nos distribuímos em três subgrupos, daquelas que se reconheciam
como brancas, aquelas que se reconheciam como negras, e aquelas em que não se
identificava com nenhum desses dois grupos ou não sabia a qual grupo pertencia.
Identificar-se pertencente a um desses grupos, não significa apenas pertencer a
uma descendência genética, ou ter um fenótipo. Identificar-se com um desses
grupos é reconhecer que você compartilha experiências, privilégios, dores,
estigmas, estereótipos, dificuldades, facilidades de acordo com o grupo que
você pertence.
As
participantes que se identificaram como negras, ao relatarem a primeira vez que
se descobriram assim, tinham pontos em comum a vivência o sofrimento de algum
preconceito, vivencia de um momento isolamento social por condição de sua raça,
vivência da percepção que o “corpo desejado” idealmente é diferente do corpo
real que ela tinha. É ter tido não apenas uma primeira experiência
“desagradável”, é por diversas vezes na vida ter vivenciado esse mesmo desconforto
por pertencer a tal grupo.
No
segundo momento da oficina, através de uma dinâmica que expôs os privilégios
raciais, ficou evidente como pertencer, ser branco carrega privilégios não
apenas simbólicos, mas, privilégio real. No não sofrimentos de situações
vexatórias, na não experiência que duvidassem da sua competência ou
honestidade, no medo que nunca sentiram por andarem em certos locais ou com
determinadas roupas por condição de sua raça.
É,
portanto, necessário reconhecer que todas as vivências passadas por cada uma
das participantes, seja de sofrimento ou de privilégio, não foram
necessariamente escolhidas por elas. Existe uma estrutura social, cultural que
molda através de séculos as experiências, os gostos, o que é considerado
padrão, feio ou bonito. Sendo de extrema importância, não apenas reconhecer que
existe uma estrutura, mas, que a partir do reconhecimento dos privilégios
possamos mutuamente apoiar ações que enfraqueçam essa estrutura, sejam essa
ações em nível macro como nas políticas públicas, ou em um nível micro como em
um acolhimento a uma pessoa que sofreu de alguma forma em razão da sua raça.
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