segunda-feira, 24 de junho de 2019

[15.06.2019] 10ª OFICINA PROMOTORAS LEGAIS POPULARES CEILÂNDIA



           The Vulva Gallery, Hilda Atalanta (https://www.instagram.com/p/Bt3cLUIliFe/)

Papéis coloridos, giz de cera, lápis de cor... “Hoje vamos desenhar vaginas”.
Recebemos a notícia eufóricas, mas, espera aí: “Como se desenha uma vagina? ”, “Como ela é mesmo?”, “Deixa só eu dar uma olhadinha ali no espelho rapidinho para dar uma conferida...” “Gente, a minha vagina não é assim não, mas é bonita” essas foram algumas colocações feitas de forma descontraída quando nos propuseram essa dinâmica. Engraçado é que se fosse para nós desenharmos pênis, nos vem a imagem nítida deles, isso porque a nossa vida inteira, sobretudo na escola vemos pênis em tudo quanto é lugar.
Com isso, observamos que obviamente cada uma é única e que elas possuem cheiros sim, são diferentes umas das outras e está tudo bem, é nossa, temos que cuidar dela e aceita-la. Entretanto, amar a sua vagina e entender as suas peculiaridades não é algo fácil, é se desconstruir para construir. Percebemos que com a tamanha rigidez e polidez da sociedade sobre os nossos comportamentos, sobretudo sobre padrões e estruturas machistas, refletem em certos entendimentos como o que se entende como belo e isso se estende até para como a nossa vagina deve ser.
Sobre essas perspectivas que nos trazem uma reflexão quanto aos padrões, quantas mulheres já não quiseram realizar cirurgias para modificar a sua vagina? É um número significativo, e pensando nisso, existe um projeto chamado The Vulva Gallery da artista holandesa Hilda Atalanta, que traz a diversidade das vaginas, dessa forma busca romper com esse “padrão de vagina” uma vez que existem todos os tipos de vulvas únicas e belas.
Não menos importante, nesse mês de junho justamente o mês em que se completam 50 anos de Stonewall que foi uma série de protestos tido como um dos mais importantes marcos para a garantia de direitos LGBT’s, tivemos uma roda de conversa com troca de saberes, sobretudo experiências e prévios entendimentos acerca de diversas temáticas sob a ótica de uma pessoa LGBT, a saber, “como se reflete na instituição/escola/universidade”, e,  dessa forma discutimos acerca de ressignificados para termos como “viado”, “bicha” e “sapatão” que são utilizados muitas vezes como uma forma de xingamento ou utilizado de maneira ofensiva com o intuito de constranger ou de realmente agredir  e, esse tema rendeu “pano para a manga”, dessa maneira iremos estender para o próximo encontro.
Ressalta-se o documentário fantástico denominado “Bichas” que foi uma recomendação da Nara. Nesses aspectos, apesar de serem temas densos, percebi que foi um dia em que demos boas gargalhadas largas daquelas que até escorrem lágrimas dos olhos, ademais foram trazidos exercícios de pompoarismo para melhorar não somente a nossa autoestima, mas também para o fortalecimento da nossa vagina, uma oficina prazerosa, literalmente falando.
Segue o trecho de um poema da Rupi Kaur sob aceitação:
“Se sou o relacionamento mais longo
da minha vida
será que não é hora de
encontrar intimidade
e amor
com a pessoa
com quem durmo toda noite
- aceitação ”
(O que o sol faz com as flores – Rupi Kaur)
Abraços,
Camila Souza.





terça-feira, 18 de junho de 2019

[08.06.2019] 9ª OFICINA PROMOTORAS LEGAIS POPULARES CEILÂNDIA

AVISO: GATILHO. IMAGEM PESADA.
Escultura da artista Rosana Paulino que denuncia violência perpetrada contra mulheres negras na construção sanguinária desse país.



Amas de Leite número I - Rosana Paulino

O tema da oficina foi uma “dobradinha” de racismo, foi importante para aparar algumas arestas, alguns pontos em abertos que ficaram da última oficina.
No primeiro momento foi realizada uma dinâmica acerca do “cuidar da vida”, onde foram nos dado quatro balões sendo dois laranjas que representavam a nossa vida e o branco e o azul que representavam a vida dos outros, tínhamos que passar os laranjas para a colega ao lado, ao passo que deveríamos passar os outros de forma simultânea com no máximo três toques (esses ficavam no ar e não poderíamos deixá-los cair).
Com isso, foi possível observar que muitas vezes esquecemos de nos cuidar, dar uma atenção “plus” para nós, e, vivemos sempre pensando no outro em detrimento de nós, essa é uma realidade sobretudo da mulher negra. Dessa forma metafórica, nos trouxe à tona a reflexão da solitude da mulher negra entretanto de uma maneira sutil.
Nessas perspectivas de aparar as arestas, nós fomos divididas em subgrupos para analisarmos frases com cunho racista ditas por nós na oficina anterior a essa, a título de exemplos temos as seguintes: “cota é uma forma de racismo” “o negro tem racismo com o negro”, ao analisarmos essas frases observamos o quanto o racismo realmente é “estrutural e institucionalizado”, é de notório saber que o negro independentemente de sua classe social sofre racismo, não importa a sua vestimenta, nem o seu caráter, porque a sociedade de uma forma geral sempre irá olhar primeiro a cor de quem a está utilizando, onde a utilização de adereços em baile da Vogue, está ok, entretanto quando é utilizado por negras que possuem todo o histórico e a marca de ter que carregar na pele ainda na contemporaneidade é tido como “feio”, “estranho”, “macumbeira”.
Nesses aspectos, são as pequenas somas diárias que fazem a diferença, mas não só isso, creio eu que desconstruir certos conceitos são necessários além de trazer a reflexão no outro e tentar abrir o diálogo, não só abrir o diálogo, porém permanecer. Permanecer, porque para o branco que foi o próprio criador do racismo é muito cômodo se omitir utilizando-se da premissa de que como “não sofro racismo não é o meu lugar de fala”, pelo contrário, como branca devo reconhecer sim os meus privilégios, que por mais que eu tenha tido pequenas dificuldades nada se compara se eu fosse negra.
Nessas perspectivas, fiquei com o coração aquecido após ter conhecido várias mulheres negras inspiradoras, desde Maíra à Marielle, e, saber que eu estou rodeada de mulheres negras inspiradoras e que possuem uma enorme “força de potência” como disse sabiamente a Nana, me faz sentir não só grata, mas com um privilégio (bom) de conhecê-las e de realmente estarmos mudando as coisas. E como diria Nina Simone: “liberdade é não ter medo!”.
Deixo como resistência um trecho da artista ceilandense Rebeca Realleza na música Revolução dos Bichos:
“Ces chama de macaca a rainha dessa selva
Cuidado seus babacas quando nós passar tu gela
Tô, pesada igual King Kong
Queen, eu tô tipo Latifah
De galho em galho cheguei ao topo
Sei bem que isso te irrita
O planeta é nosso não aceitamos a jaula
A selvageria que não vai ser adestrada
Revolução dos bichos, evolução da raça
Declaro encerrada a temporada de caça”

Abraços e força!
Camila Souza



TEXTO 2:


Hoje a partilha feita foi com a convidada Maíra Brito, jornalista, mestra em  Direitos Humanos, autora do livro “ Não ele não está “ sobre o extermínio da juventude negra a partir do relato das mães dos filhos assassinados. Ela teve de ir ao Rio de Janeiro, pois em Brasília não havia mães que tinham forças para falar sobre o extermínio de seus filhos.
Maíra nos trouxe várias referências de mulheres negras que fazem parte da sua trajetória e nos presenteou com a potência do samba escrito e cantado por elas. 
Ouvimos Elza Soares e Dona Ivone Lara, que fizeram da dor sua força. 

Gratidão Maíra, pela potência; milito no Movimento de Mulheres desde 2011 e reafirmo  que nunca me senti tão acolhida num grupo de mulheres quanto me sinto com as Promotoras Legais Populares.

Relato da cursista Isabela Aysha 




segunda-feira, 10 de junho de 2019

[01.06.2019] 8ª OFICINA PROMOTORAS LEGAIS POPULARES CEILÂNDIA


Reconhecer-se, identificar-se. Essas foram duas palavras que conduziram o grupo na última oficina. Nós nos distribuímos em três subgrupos, daquelas que se reconheciam como brancas, aquelas que se reconheciam como negras, e aquelas em que não se identificava com nenhum desses dois grupos ou não sabia a qual grupo pertencia. Identificar-se pertencente a um desses grupos, não significa apenas pertencer a uma descendência genética, ou ter um fenótipo. Identificar-se com um desses grupos é reconhecer que você compartilha experiências, privilégios, dores, estigmas, estereótipos, dificuldades, facilidades de acordo com o grupo que você pertence.
As participantes que se identificaram como negras, ao relatarem a primeira vez que se descobriram assim, tinham pontos em comum a vivência o sofrimento de algum preconceito, vivencia de um momento isolamento social por condição de sua raça, vivência da percepção que o “corpo desejado” idealmente é diferente do corpo real que ela tinha. É ter tido não apenas uma primeira experiência “desagradável”, é por diversas vezes na vida ter vivenciado esse mesmo desconforto por pertencer a tal grupo.
No segundo momento da oficina, através de uma dinâmica que expôs os privilégios raciais, ficou evidente como pertencer, ser branco carrega privilégios não apenas simbólicos, mas, privilégio real. No não sofrimentos de situações vexatórias, na não experiência que duvidassem da sua competência ou honestidade, no medo que nunca sentiram por andarem em certos locais ou com determinadas roupas por condição de sua raça.
É, portanto, necessário reconhecer que todas as vivências passadas por cada uma das participantes, seja de sofrimento ou de privilégio, não foram necessariamente escolhidas por elas. Existe uma estrutura social, cultural que molda através de séculos as experiências, os gostos, o que é considerado padrão, feio ou bonito. Sendo de extrema importância, não apenas reconhecer que existe uma estrutura, mas, que a partir do reconhecimento dos privilégios possamos mutuamente apoiar ações que enfraqueçam essa estrutura, sejam essa ações em nível macro como nas políticas públicas, ou em um nível micro como em um acolhimento a uma pessoa que sofreu de alguma forma em razão da sua raça.
Relatoria por Mariane Abreu