Relatoria oficina dia: 19/05/2018
7ª Oficina PLPs São Sebastião- 19/05/2018 |
Usar do espaço de privilégio para dar espaço para grupos que não o tenham é necessário, mas não se isso significar silenciá-los)
Quando falamos da questão do protagonismo, sempre vem alguém dizer:
"Qualquer um pode falar sobre opressões, não preciso ser negro para apoiar
a luta". Não precisa mesmo e é dever dos não negros se conscientizar e
lutar contra as opressões. Mas, o que muitos não entendem é que são eles quem
têm falado sobre nós ao longo do tempo.
Os trabalhos acadêmicos iniciais sobre essa questão, por exemplo, foram
feitos por não negros justamente porque o racismo impede o acesso da população
negra aos espaços acadêmicos. Muitos desses trabalhos são bons, sem dúvida,
muitos não, mas a questão não é essa.
O cerne aqui é: se pessoas brancas continuarem falando sobre pessoas
negras a gente não muda a estrutura de opressão que já confere esses
privilégios aos brancos. Nós, negras e negros, seguiremos apartados dos espaços
de poder. E nossa luta existe justamente por causa desse aparte. Daí, no
movimento formado para combater isso, nós ainda seguiremos apartados? Não
perceber a importância disso me faz questionar até que ponto se é aliado. Como
negra, não quero mais ser objeto de estudo, mas sim o sujeito que pesquisa. Se
eu, como mulher negra, já estou fora de diversos espaços, um aliado veria a
importância de eu falar sobre problemas que me afligem em vez de querer falar
por mim. É necessário usar do seu espaço de privilégio para dar espaço para
grupos que não o tenham, até porque esse privilégio foi construído em cima das
costas de quem foi e é historicamente discriminado. Quantas vezes fiz um
discurso lindo contra o racismo, mas silenciei uma mulher negra que tem mais
legitimidade para falar de um tema que a atinge? Quantas vezes denunciei o
preconceito, mas romantizei a relação com minha empregada negra. Parem com a
síndrome de privilegiado que julga que você pode falar sobre qualquer coisa.
Poder, realmente você pode. Mas em determinadas instâncias, a pergunta que você
deve fazer é: eu devo?
Viola Davis
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