Existem vivências, dores e compreensões que transcendem os
nossos corpos para além da nossa existência.
O perfil do ser humano é lido por muitos inicialmente de
acordo com seus traços, cores e gênero, fator ao qual fragmenta e por vezes
determina quais serão os acessos que ao longo da vida cada um destes terão.
Ser mulher numa sociedade que historicamente privilegia
homens, pessoas brancas e cis traz consigo inúmeras marcas. Um exemplo disso é
o crescente número de casos de feminicídio e de violência contra mulher.
Segundo dados do levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública,
que teve como fonte os boletins de ocorrência das Polícias Civis das 27
unidades da Federação indica-se que no ano de 2021 houve um breve recuo no
número de registros de feminicídio contra mulheres brancas, porém em
contrapartida apontam que ocorreu um significativo aumento dos registros de
estupro e estupro de vulnerável no mesmo ano.
Os dados preliminares de violência letal contabilizam 1.319
mulheres vítimas de feminicídio no último ano, decréscimo de 2,4% no número de
vítimas; e 56.098 estupros (incluindo vulneráveis), apenas do gênero feminino, crescimento
de 3,7% em relação ao ano anterior.
Uma pesquisa feita pelo IPEA declara que cerca de 61% das
vítimas de feminicídio no Brasil são negras, realçando a realidade
discriminatória que alcança de maneira desigual a história de muitas de nós.
Isso tudo em meio a uma pandemia, onde como que uma ironia
escancarada, lembremos que a primeira vítima da covid-19 no Brasil foi uma
mulher negra, empregada doméstica de meia idade. Desde o início da pandemia o
elevado número de mortes de pessoas negras e, especialmente mulheres negras, é
uma evidente consequência do processo histórico de exclusão social e racismo
que o país tem.