quarta-feira, 29 de maio de 2024

7ª OFICINA DE 2024

                                 7ª OFICINA DE 2024

                                          25 de Maio de 2024


Vulva,

Dos encontros da vida, pensarmos em trocas e saberes, se faz necessário em uma sociedade que nós mulheres fomos criadas para não conhecermos nossos corpos. Em uma sociedade que estabeleceu a dicotomia de beleza padronizada, muitas de nós só experienciamos o que é imposto como feio.

Falar de vulva, desenhá-la e acompanhar os relatos acerca de tabus, opressões e desconhecimento me fez pensar o quanto fomos e somos silenciadas. Não reconhecer uma parte do nosso corpo é mais uma amordaça advinda de uma criação de não poder, de não falar e de não sentir, sobretudo de não tocar.

A primeira parte do encontro nos proporcionou refletir o quanto ainda é difícil falarmos de algo que faz parte do nosso corpo, algo que deveria ser simples. Mesmo cientes que aquele espaço transborda segurança há pudores cristalizados em pensar e falar de características que compõem a vulva: monte pubiano, os grandes e pequenos lábios, o clitóris, o vestíbulo da vagina, as glândulas de Skene, as glândulas de Bartholin, a abertura da uretra e a vagina.

Se difícil é pensar, falar, imagina desenhar. E assim foi.


Sexualidade,

Após, na segunda parte, trocamos conhecimentos e possíveis significados sobre os termos: lésbica, bissexualidade, não-binário e transexualidade, numa perspectiva de orientação sexual e identidade de gênero.

A dinâmica baseou-se em três perguntas. Ao ouvir cada palavra mencionada, qual a palavra vem em mente? Qual sentimento desperta? Essa palavra gera dúvida? E sem sombra, dúvida é que não falta.

Em resumo, a mulher lésbica refere-se a mulher que sente atração afeto-sexual por outra mulher e bissexualidade refere-se atração afetiva e sexual por pessoas de qualquer gênero e sexo, ambos são relativos a orientação sexual. Já o termo não-binário é empregado para a pessoa que não se sente pertencente ao gênero masculino ou ao feminino e a transexualidade é utilizado para se referir a uma pessoa que não se identifica com o gênero ao qual foi designado em seu nascimento, ambos estão ligados a identidade de gênero.

Entre termos e significados, lésbica significa amor, amor genuíno, daqueles amores que olhares não se enganam.

 

Desejo,

Na última parte do encontro houve provocação da palavra desejo. O que é desejo? O que é desejar? O que é ser um sujeito desejante? E o significado, assim como os nossos sábados, vai além da expectativa de possuir ou alcançar. Foge do erótico. Desejo é estar, ir e ficar! Desejo é movimento, é aprender, é pensar. É cheiro, é paladar, é escutar.

 

PLPs,

Dialogar acerca de vulva, sexualidade e desejo me faz lembrar o quanto é importante essa viagem sem volta que esses encontros semanais nos proporcionam. Pensar e falar sobre nós vai além de termos e significados. É um fruto colhido de transformação na vida de tantas que somos nós, que carrega, que embala um mundo que tenta nos silenciar. Pensar em PLPs me lembra construções, quebras e reerguimento de mulheres!

Relatoria da cursista: Camyla Hendrix





sexta-feira, 24 de maio de 2024

 

                             6ª OFICINA DE 2024

                                         18 de Maio de 2024


O encontro iniciou com um momento de reflexão onde cada participante foi convidada a compartilhar sobre uma mulher que considerava uma inspiração.

Após a abertura, realizamos uma dinâmica voltada para a escolha e apresentação de histórias marcantes nas conquistas das mulheres no Brasil. As participantes foram divididas em pequenos grupos e cada grupo escolheu uma história que considerava significativa para compartilhar.

A segunda parte do encontro contou com a presença da professora convidada, que ministrou uma palestra sobre os avanços e desafios legislativos na luta pelos direitos das mulheres no Brasil.

E avançamos com uma análise dos obstáculos enfrentados na criação das leis. Além de uma discussão sobre a resistência cultural e institucional que ainda persiste em diversas regiões do país e foram base para a luta pelos direitos das mulheres em suas comunidades.

Agradecemos a professora que participou com suas valiosas contribuições para o sucesso deste encontro. 

Relatoria da cursista: Raquel Almeida Vargas






5ª OFICINA DE 2024

                                                    5ª OFICINA DE 2024

                                                    11 de Maio de 2024


"Minha mãe me deu ao mundo de maneira singular. Me dizendo uma sentença: pra eu sempre pedir licença, mas nunca deixar de entrar" (Tudo de Novo, Maria Bethânia e Caetano Veloso).

 

“Nós, mulheres negras do Brasil, irmanadas com as mulheres do mundo afetadas pelo racismo, sexismo, lesbofobia, transfobia e outras formas de discriminação, estamos em marcha. Inspiradas em nossa ancestralidade, somos portadoras de um legado que afirma um novo pacto civilizatório”.

( Trecho introdutório da Carta da Marcha das Mulheres Negras .18 de nov. de 2015 )


Nossa oficina teve como "esquenta" uma dinâmica que consistia em andarmos, todas, pela sala, em movimentos lentos e livres. E, ao toque de "pare!", dado pela PLP Carol, parávamos e, com os olhos fechados, devíamos responder a algumas perguntas sobre sinais visuais que observamos umas nas outras, tais como "quantas ali vestindo calça, quantas com uma determinada tatuagem, quantas de blusa azul, etc". Um exercício de sensibilidade visual. De como vemos e percebemos o/a outro/a com quem convivemos. E houve uma pergunta provocativa: Quantas pessoas na sala são brancas e quantas negras? Para essa não nos foi cobrada uma resposta. Apenas serviu como questão motivadora para o tema do encontro, qual seja, a construção da identidade negra.

Em seguida, formamos alguns grupos para lermos textos sobre questões etnicorraciais. Um grupo foi formado por mulheres que se entendem como negras (pretas ou pardas), outro pelas que se autodeclaram brancas e o terceiro, por mulheres que ainda estão num processo de busca da identidade racial ou que não o sabem.

Os textos discorriam sobre o legado nefasto do racismo e seus efeitos sobre nossa capacidade de autodeclaração da identidade etnicorracial e sobre quão delicado foi esse processo, pois que viemos de uma estrutura que se ocupou em nos fazer admirar e submeter aos valores e padrões da civilização eurocêntrica. Os textos falavam, também, sobre como a instituição Escola teve e ainda tem, em muitos aspectos, papel fundamental na reprodução da ideia da supremacia branca, bem como tem a responsabilidade, a partir, sobretudo, da Lei 10.639/2003, de fomento à luta por uma educação antirracista no Brasil.

Após a leitura, formamos um grande grupo e, voluntariamente, muitas de nós fizemos a exposição do que lemos. Passamos a refletir e dialogar sobre o que é ser negro/a no Brasil e suas implicações no nosso processo de reconhecimento de nossa história e de nossa ancestralidade. E foi consensual a ideia de que houve a tentativa ideológica  de  apagamento  da  história  e  da  cultura  afro-brasileira,  para  fins  de subalternização física, mental e intelectual e de silenciamento das vozes negras. Houve um esforço, pela classe branca e privilegiada, de desenvolver nas mentes e nos corpos negros uma necessidade real e simbólica de “embranquecimento”, se quiséssemos, negros/as, ser social e humanamente aceitos.

Fizemos pausa para um delicioso lanche e logo depois, tivemos um momento com a PLP Mariana, que veio contribuir com as reflexões sobre racismo e como as questões raciais atravessam e afetam as mulheres negras, em especial.

Ela distribuiu 2 textos do livro autobiográfico Quarto de Despejo: Diário de uma favelada, da escritora Carolina Maria de Jesus. Os textos são o relato de 2 dias na vida dessa mulher, preta, mãe solo de três filh@s, muito pobre, moradora de uma favela no Estado de São Paulo nos anos de 1960, que todos os dias saía muito cedo de casa, para o corre do ganha pão. Catando papelão, pedindo ossos nos açougues, recolhendo restos de comida… E contemplando a vida livre e sem miséria dos pássaros, a beleza (para ela) da cidade, que lhe parecia cheia de palácios e riquezas, se punha a acumular pensamentos. Pensamentos e revoltas que, à noite, tendo - ou não - alimentado a si e a seus filh@s, ela se punha a relatar. Escrevia observações sobre sua saga pela sobrevivência e sobre suas percepções doridas acerca da vida dos negros e negras como ela. Carolina denunciava as desigualdades de gênero, de raça e de classe. E foram esses três enfoques que a promotora Mariana pediu que a gente identificasse e destacasse nos textos em análise.

Carolina Maria de Jesus tinha consciência da opressão que sofria por ser mulher, por ser negra e por ser favelada, vivendo na pobreza extrema. Seu olhar crítico sobre injustiça social, sobre os agentes do poder público (políticos) e sobre a democracia como sistema de governo transpassa a todo momento sua percepção sobre o mundo em que vivia. E, em algumas passagens de seus relatos, ela se mostrava cética em relação às promessas que ouvia de políticos e candidatos.

A escrita de Carolina Maria de Jesus era solitária, como toda escrita. Mas o seu processo criativo se misturava com o caos que era sua existência. Muitas vezes escrevia com fome, com dores no corpo e na alma. Preocupada com as agruras do dia que estava por vir. Preocupada com os perigos que seus filh@s corriam, sendo negr@s. Era uma mulher sagaz. Tinha consciência política, era semi analfabeta, mas falava e escrevia com eloquência. Morava em um lugar paupérrimo, mas sabia o que era morar bem, de tanto que observava os “palácios” que via na cidade. Não acreditava no poder público, mas sabia o que era ter uma vida digna, de tanto observar - e desejar - a vida das pessoas bem alimentadas e felizes que sabia existirem.

Quando terminamos a leitura, em pequenos grupos, abrimos uma grande roda para exposição de nossa compreensão e análise dos textos. E foi nesse momento que Mariana abriu uma discussão acerca do Feminismo Negro e da importância da interseccionalidade. E de como Carolina Maria de Jesus ocupa lugar muito importante na literatura feminista e no Feminismo Negro.

Se estivesse viva, Carolina Maria de Jesus provavelmente teria marchado, naquele novembro de 2015, junto com as mais de 50 mil mulheres, na Marcha das Mulheres Negras, contra o racismo, a violência e pelo Bem Viver, reivindicando um novo pacto civilizatório. Afinal, lá atrás, em 1960, foi ela quem escreveu: “para mim o mundo em vez de evoluir está retornando a primitividade..." (Quarto de Despejo)

Foi uma oficina muito farta de alimento. Para nosso corpo (ah, lanches gostosos!) e para nossa compreensão de mundo. Sou só gratidão!

Relatoria: Fia (Alcioneides Novais)





segunda-feira, 13 de maio de 2024

4ª OFICINA DE 2024

                                                    4ª OFICINA DE 2024

                                                04 de Maio de 2024


Eu cheguei toda assoberbada no encontro desse sábado, estava ainda mexendo no celular, mas aí a Carol - a facilitadora que estava administrando aquela primeira atividade- nos mandou virar a cadeira e sentar olhando para a parede, fechar os olhos, respirar e se localizar no espaço e no tempo do nosso encontro. 

Em seguida, ela pediu pra que nós tocássemos na parte do nosso corpo que fizesse com que nós nos identificássemos enquanto mulher. Como todas nós estávamos de olhos fechados, eu não sei o que minhas colegas fizeram, mas eu não toquei em parte alguma,  porque me parecia muito óbvio os lugares que eu tinha pensado, então preferi não tocar em lugar nenhum.

Após isso, nós viramos as cadeiras e começamos a conversar sobre quando e como nós nos percebemos enquanto mulheres.

Foi muito curioso, porque cada uma trouxe experiências distintas e ficou latente a natureza interseccional de cada vivência e daquele grupo - também quanto um corpo coletivo.

Nesse cenário, questões de raça, sexualidade e classe foram pautadas, não como tangentes a questão de gênero mas enquanto elementos que perpassam e, muitas vezes, sobrepõem-se as questões de gênero.  Assim, depreendi que nem sempre ser mulher é a grande questão, ou a questão mais latente no processo de reconhecimento pessoal.

Em seguida, as facilitadoras nos deram uma folhinha com um biscoitinho humano e nós tivemos que preencher esse bonequinho com: i) identidade de gênero; ii) orientação sexual; iii) sexo “biológico”; iv) expressão de gênero. 

Nesse contexto, à identidade de gênero associamos a: mulher, homem, não binário, cis, trans e travesti. 

Em relação a orientação sexual, expusemos várias, das quais destaco, em tom exemplificativo: lésbica, gay, pansexual, asexual, bissexual, heterossexual e demissexual. Esse momento foi muito curioso porque falamos várias orientações, mas esquecemos da heterossexual até o último momento - acho que isso mostra muito o coletivo no qual nós estamos inseridas. 

O sexo “biológico”, por sua vez, vinculamos ao sexo: feminino, masculino e o intersexual. Por último, a expressão de gênero, classificamos enquanto:  feminino, masculino e o andrógeno. 

Depois de preencher isso, claro, com muita discussão no meio do caminho, nós debatemos um pouco sobre a desigualdade de gênero. 

Nessa discussão, determinamos que tal desigualdade é um fato concreto da realidade, que tem  motivos distintos e seus graus diferentes, mas que é nitidamente perceptível na nossa realidade. 

Por fim, nós trabalhamos um pouco sobre o feminismo, o que ficou mais evidente nesse assunto, para além das categorias de feminismo e tudo mais, é o fato de que os direitos das mulheres e consequentes políticas públicas de igualdade de gênero, são frutos do movimento feminista, enquanto uma força coletiva advindo da mobilização das mulheres.

Para finalizar o encontro, nós tivemos que dizer o que mais nos marcou nessa sessão das PLPs. Tentando aqui fazer um resumo, o que apareceu em quase todas as falas foi a definição desse espaço enquanto um espaço de escuta. Observei também um sentimento genuíno de gratidão por integrar esse espaço e poder dividir, compartilhar e ouvir todas essas vivências e trabalha-las em coletividade.

Relatoria da cursista: Julia Zucchi Natour






segunda-feira, 6 de maio de 2024

3ª OFICINA DE 2024

 3ª OFICINA DE 2024

27 de abril 


Na primeira parte da oficina do dia 27 de abril de 2024, nós conversamos sobre modelos de educação. Começamos com uma dinâmica de teatro-imagem: usando apenas a linguagem corporal, sem poder falar nada, criamos duas cenas. A primeira imagem teve educação formal como tema. O resultado foi uma cena de uma sala de aula, com muitas estudantes sentadas e em silêncio, uma professora escrevendo num quadro, provas sendo corrigidas, algumas pessoas lendo. Na segunda cena, o tema foi educação popular, e imagem que montamos foi bem diferente: havia pessoas sentadas ou deitadas de maneiras mais confortáveis, sempre em duplas ou pequenos grupos, conversando em roda, dançando, caminhando e observando coisas a sua volta. 

Na reflexão coletiva sobre as imagens que criamos, falamos sobre os contrastes. Na imagem da educação formal, representamos as experiências de muitas de nós em escolas, cursos profissionalizantes e universidades, em que o foco ainda é a reprodução e memorização de informações, a disciplina dos corpos, o silenciamento. Geralmente nesses contextos há pouco espaço para a troca de experiências, para expressão individual e coletiva, e para aplicar conhecimentos na vida real, na solução ou reflexão de problemas concretos. 

Muitas companheiras relataram também como esses espaços de educação formal com frequência são marcados por práticas discriminatórias, violentas e desumanizantes com crianças e adultas negras, e também tendem a ser moldados a partir de expectativas diferentes direcionadas para meninas e mulheres – vistas como mais comportadas, passivas e cuidadoras – e para meninos e homens – vistos como mais fortes e ágeis, mais interessados em esportes, mais competitivos.   

Por outro lado, a imagem sobre educação popular nos despertou ideias de um aprendizado que não se faz só com a mente, mas também com o corpo, com o movimento. Um aprendizado que não se vive individualmente, mas juntas, conversando, trocando experiências e ideias. E uma produção de saberes que tenha compromisso com nossas vidas e problemas sociais. 

Na última parte da oficina, conversamos sobre as regras de convivência que queremos seguir no curso esse ano. Fizemos um acordo de guiar nossos encontros por valores como alegria, respeito, responsabilidade, abertura para aprender, acolhimento e cuidado umas com as outras, além de manter práticas como sempre levar lanche e café e ser pontuais com os horários das oficinas. Combinamos também que deixaremos de fora do curso todos os tipos de discriminação, incluindo LGBTfobia, racismo, capacitismo, classismo, sexismo, etarismo e gordofobia; também cuidaremos de não espalhar fake news e desinformação, e de não ter posturas autoritárias e impositivas, entre outras regras que ficaram registradas por escrito em cartazes.

Estamos desenvolvendo uma base bonita e sólida para uma jornada de muito aprendizado e alegria em 2024!

Relatoria da cursista: Sinara Gumieri