sexta-feira, 27 de setembro de 2019

[31.08.2019] 18ª OFICINA PROMOTORAS LEGAIS POPULARES CEILÂNDIA





Abandonai toda a esperança, vós que entrais
(Dante Alighieri)
A situação prisional brasileira é preocupante e a frase de Dante Alighieri poderia estar estampada na porta de entrada da maioria das prisões brasileiras, sinalizando a “excelência” de um sistema cruel, desumano e degradante.
 A superlotação e a precariedade das prisões do país são decorrentes de omissões e falta de ações do Poder Público e geram um quadro de violação persistente de direitos humanos. Quadro esse que foi reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em decisão onde se caracterizou o sistema prisional nacional como um “estado de coisas inconstitucional”.
O “estado de coisas inconstitucional” é uma figura jurídica que surgiu na Corte Constitucional da Colômbia e pode ser reconhecida diante de três situações:

     situação de violação generalizada de direitos fundamentais;
     inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a situação;
     superação das transgressões exigir a atuação não apenas de um órgão, e sim de uma pluralidade de autoridades.

Dentro deste cenário de falência, as mulheres vivenciam a experiência da prisão de forma mais traumática do que homens, mesmo que representem percentual pouco significativo na população prisional brasileira: são 5,8% de mulheres presas para 94,2% de homens.
Se a realidade das prisões já é cruel para os homens, ela é ainda mais severa para essa parcela invisível de mulheres, as quais sofrem as violações de um sistema pensado e estruturado por e para homens. O resultado é um modelo que não está atento às peculiaridades do gênero feminino, dentre as quais se destacam o ciclo menstrual. É comum ouvir relatos de presas que usam miolo de pão e papel jornal durante seu período, já que o sistema prisional age como se acreditasse que as necessidades fisiológicas de homens e mulheres são aliviadas da mesma forma.
Por consequência do abandono, tanto do Poder Público quanto dos familiares, muitas destas mulheres dependem da própria sorte, não contando com o acesso ao básico: saúde, educação e segurança.  E, com isso, acabam por voltar para atrás das grades, já que não conhecem outra realidade. Quanto maior a vulnerabilidade destas mulheres, maiores as chances delas voltarem ao cárcere institucionalizado.

Relatoria da cursista Thalita Cardoso


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